Estado e pandemia agravam prejuízos das instituições de solidariedade social
Os prejuízos financeiros da atividade das instituições de solidariedade social estão a agravar-se. O presidente da Confederação Nacional das IPSS, Pe Lino Maia, denuncia que os resultados negativos a apresentar no final deste ano vão ser ainda mais gravosos do que vinha a acontecer, por força do impacto da atual crise pandémica.
“Segundo um estudo da Universidade Católica, cerca de 40% das instituições de solidariedade em Portugal chega ao fim do ano com resultados negativos, mas este ano será ainda mais gravoso”, avançou Pe Lino Maia, intervindo sexta-feira à noite na conferência online “Vila Verde 2020” dedicada ao tema “Ação Social, Solidariedade e Voluntariado” conduzida pela vereadora e candidata do PSD à presidência do Município, Júlia Fernandes.
O provedor da Misericórdia do Porto, António Tavares, confirmou as perspetivas negativas para uma atividade que não é lucrativa e cujas dificuldades vêm sendo agravadas pela postura do Estado, que paga pouco e atrasado as obrigações e compromissos assumidos com as instituições de solidariedade social.
Excetuando as respostas especializadas de apoio social, o Estado comparticipa em cerca de 40% as respostas sociais, sendo que os utentes assumem em média 30% destes custos, ficando às instituições com cerca de 30% a descoberto. O provedor portuense e o líder da CNIS defendem que é urgente que o Estado se reaproxime do mínimo de comparticipação na ordem dos 50%, para superar a situação de permanente e crescente sufoco financeiros das IPSS.
“As instituições sociais estão preparadas, são fortes e resilientes. Mas o Estado, muitas vezes, não é amigo destas instituições, nem das pessoas, sobretudo as mais carenciadas”, lamentou António Tavares, que confessou esperar que o Plano de Recuperação e Resiliência apresentado pelo governo “ainda dê uma grande volta” e se torne “mais inclusivo”.
É que, além de fraca, a famosa ‘bazuca’ ou ‘vitamina’ concentra os fundos em Porto e Lisboa, “porque é lá que estão os votos” – protestou o provedor da Misericórdia portuense. Com isso – alertou –, “uma parte grande do país não está a ter condições de produzir”. Simultaneamente, assiste-se ao “desmantelamento de estruturas no resto do país”. Em seu entender, é fundamental que o apoio à economia social, à habitação e ao combate à pobreza infantil “não seja só retórica”, mas sim “efetivo”.
Júlia Fernandes realçou o exemplo do trabalho em rede que vem sendo desenvolvido no concelho de Vila Verde, envolvendo as instituições de solidariedade social com o Município, as juntas de freguesia e demais instituições, como comprovou Raul Maia, do Centro Comunitário da Cruz Vermelha de Prado, dando ainda conta da intervenção especializada junto de pessoas mais desfavorecidas.
Na sessão foi sublinhada a importância do voluntariado e da mobilização dos jovens para o trabalho social. Os intervenientes defenderam a importância da formação para o voluntariado, em contraponto com o voluntarismo e descomprometimento. A introdução de uma disciplina ou cadeira específica no ensino normal é encarada como uma solução, até porque “o voluntariado é um pilar da solidariedade e das IPSS”.